Monday, April 16, 2007

Poema do mitra de segunda categoria

Evidente limitação cerebral
Detectável pelo traje:
Negligência ética que interage
Numa consagrada insuficiência verbal.

Sunday, April 15, 2007

Poema da CIMPOR, SGPS, S. A.

Última partícula de pó,
Traz-me a alergia
Dos elementos urbanos indivisíveis
Que dão cheiro à burguesia.

Poema da fábrica de vidro da Marinha Grande

Chama ardente,
Sopro divino,
Transparência serial
De tom cristalino.

Friday, March 30, 2007

Poema da esplanada do Pão de Canela aos Sábados de manhã com sol

Mélange de palavras leves,
Sons de chávenas e jornais...
Risos de alegria, gestos bem medidos:
Suaves ironias matinais.

Poema do facto de se encontrar sempre alguém conhecido nas Amoreiras

Compro vegetais em anonimato,
Arrasto-os num labirinto sem fim!
As sombras espreitam ao longe:
Preparo-me para um sorriso ruim.

Poema do amolador que passa pelo Rato aos fins-de-tarde

Prática reiterada,
Avisos sem declaração...
Qual homem naftalinizado
- Espécie em vias de extinção.

Thursday, March 29, 2007

Poema do escravo da função pública revoltado com a Carris

Folhas brancas da vida,
Minutos assassinos da memória,
Saudades sem despedida...
Horários que é uma vergonha.

Poema do artista de rua que outrora lia Sartre, mas que agora recita na Imperial da Estrela

"Neve carbónica, neve carbónica,
Neve carbónica! Naves assassinas...
Peco por defeito, sem efeito.
Neve carbónica, neve carbónica!"

Poema do reformado que ainda tenta a sua sorte no amor estradal

Andava eu,
Pela rua do Alecrim,
Atrás duma moça
Que cheirava a jasmim.

Poema da lâmpada de 65W fundida

Frágil cintilar de estrela,
Ideia fabricada em série!
Morres na vã solidão
Da tua vida efémere.

Poema do bêbado do jardim da Estrela, às 17 horas

O banco está limpo, vou-me deitar
Antes que o tempo passe...
Depois vem o impasse
De nova garrafa ter de ir comprar.

Poema duma rapariga que vi no eléctrico 28, cujo engate foi um fracasso

O sorriso do eléctrico
Fascinou-me definitivamente:
Tenho mais um drama no arquivo,
Tal como o Sr. Américo...

Poema do homem que acorda de manhã e se apercebe de que está fodido

Quarto estreito,
Cama disforme...
Esmagado por almofadas
De um punho enorme.